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08/03/12

AL-Gures em 2008

Desacordo ortográfico

Deixei a discussão da Mariana e do Salvador, na Casa Quieta; deixei a Teresa e o Tomás, na Insustentável Leveza do Ser; deixei a burra, a Ana, e o velho Durico, na Cal; deixei o Eric Clapton, na História do Mundo em Nove Guitarras; e deixei ainda a dona maria e o seu marido, num orgasmo sonoro a duas vozes, em Variações Tangenciais.
Deixei-os a todos e pus-me a escrever o que gostaria que alguém deixasse dentro de uma obra ((de)terminada) (prima), desses jovens criadores.
Escritores
Escriadores
Escridores
Escriatores

E foi assim que deixei também de brincar com as palavras. Que as palavras são coisa séria. Pronto final.
Para agrafo.
Trave São.

A escrita não é senão uma obra de arte. E tomo a liberdade de fazer desta arte a minha obra.
Sem acordos ortográficos.
sem as regras que outros querem impor.
A regra impõe-na o texto, fá-la o bico do lápis, a minha mão toda. Nem sequer o meu cérebro, a minha razão.
Farei da liberdade – a minha: arte de expressão.
Com sentimento
Consentimento
Comsentimento

Arte livre.
Em que só há um acordo.
Um acordo com a minha ortografia, que se quer fazer a ela própria em desacordo.
Des(acordo)
Acórdo
Acôrdo

Sem querer saber das metáforas, dos pleonasmos, das redundâncias, dos acentos, da entoação, do contexto.
Não sei pintar senão letras. Esboços a lápis de carvão, depois impregnados por uma tinta electrónica de máquinas que substituem dedos, e mãos inteiras de palavras.
Pala
A lavra
(P)a(lavra)

Sinto a escrita portuguesa, ou pelo menos, os jovens escritores, a enveredar por caminhos paralelos. E como paralelos: cruzam-se no infinito. No infinito de símbolos, negritos, itálicos, tamanhos 8, 14, triângulos, quadrados, asteriscos, cardinais, reticências
Infinitos de fazer das palavras mais do que meros aglomerados de letras, que aborrecem as mais fúteis e preguiçosas das gentes.
Formas mil de ser 1000 original, de inventar mais, de fazer mais um trocadilho, criar mais uma expressão, ser o primeiro espermatozóide a fecundar o óvulo, e que ri com ar de gozo, a saber que os seus companheiros, por mais que esperneiem não chegam lá. Por mais que se flagelem não furam. Por mais que percam a cabeça, não entram!
Infinitos de estórias entrelaçadas e frases de fazer pensar. De fazer pensar lê-las em voz alta. E repeti-las. Repeti-las. Repeti-las. Vezes e vezes sem conta, sem contar as vezes sem conta.
Formas 1000 de(s)fazer das palavras esta arte e dar-lhes vida.
movida
vida movida
(mo)vida
 
gosto de comboios que não tem raça de homens… descarrilados.
Apetece-me estoricar. Cheira a gente. Sabe a sexo.

Pronto final. Para agrafo. Trave São.

2 comentários:

Anónimo disse...

U au! ;)

Paranoiasnfm disse...

No fundo, não passa de um desacordo ortográfico. :)

Muito bom!